Turmas com melhor desempenho têm professores mais experientes, aponta estudo

Por 04/07/2017 Gerais, Notícias

Estudo relaciona perfil de professores com o desempenho de turmas na Prova Brasil. Dados abrangem escolas de todo o país.

As turmas de 5º ano do ensino fundamental com melhor desempenho na Prova Brasil contam com professores mais velhos, com mais de 10 anos de magistério e que acreditam no potencial de seus alunos: é o que mostra uma análise qualitativa realizada pela empresa de ciência de dados IDados. As informações, compiladas com dados de todo o país, mostram que as melhores notas saem de salas de aula com maioria de meninas e com 88% dos alunos na idade certa.

A análise, realizada pela economista Mariana Leite, baseou-se nos dados qualitativos do desempenho em matemática na Prova Brasil de 2015, além de se valer de respostas que os professores deram nos questionários relativos à avaliação. A Prova Brasil é aplicada pelo MEC e é um dos itens que integram o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

O estudo do IDados mostra que nas turmas de alto rendimento, 74,7% dos professores têm mais de uma década de experiência, contra 66,3% nas turmas que não se saíram tão bem no teste.

A idade do professor também parece influenciar: 61% têm mais de 40 anos nas boas turmas, enquanto as piores têm 45,5% de professores abaixo da faixa etária. Além disso, a presença de professores temporários é maior nas salas de baixo desempenho, com 25,8% se contrapondo aos 16,9% das melhores turmas.
“No geral, a maioria dos diretores de escola dizem que a seleção dos professores para as turmas depende do tempo de casa de cada um. Os mais experientes podem escolher turmas. Não é o caso do professor temporário, que acaba pegando turmas que dão mais trabalho e que têm mais repetentes”, comenta a economista.

Expectativas
Outro fator que chamou a atenção de Mariana Leite é a expectativa dos professores em relação aos alunos. Nas turmas de bom desempenho, 66,3% dos mestres acreditam que mais da metade dos alunos chegará ao ensino superior. O número é bem menor nas turmas de baixa performance: apenas 27% têm essa expectativa.

“A questão da expectativa do professor é um bom preditor para o sucesso escolar dos alunos, pelo menos a curto prazo”, comenta Leite.
“Não dá para saber o que vem primeiro, se é o docente que está na turma ruim e tem baixas expectativas, ou se são as atitudes dele que estimulam menos os alunos”

Formada em pedagogia, a professora Márcia Martins Barra poderia lecionar em turmas mais velhas, mas faz questão de concentrar suas energias nos estudantes na faixa etária de 10 a 12 anos. Ela se encaixa no perfil da pesquisa: tem 55 anos, leciona há 34 e é professora da Escola Municipal Cuba, no Rio de Janeiro, no bairro Zumbi.

“Toda sala tem inúmeros casos, turmas completamente heterogêneas. Em uma turma com 27 alunos, tenho 10 excelentes. A tentativa é fazer com que os outros atinjam aquele patamar. É um trabalho diário, e acho que falta experiência a muitos professores. É preciso levar o aluno mais difícil como um desafio, tentar resgatar essa criança. Não é para fazê-la se sentir menosprezada: se não sabe, vai aprender”, garante a professora.

Disciplina
Outro ponto levantado na pesquisa é a distribuição de tempo das aulas. Nas turmas que se saíram melhor na Prova Brasil, 51,2% dos professores relatam gastar mais de 10% do tempo mantendo a ordem e a disciplina. Os docentes responsáveis por turmas de baixo desempenho relatam o problema em proporção muito maior: 71,2%.

“Faz bem conseguir dar a aula da maneira que o professor gostaria, as crianças começam a ter um desempenho diferente. O trabalho não é de um dia para o outro. Se o docente não tiver o trabalho diário e desgastante, não vai ter resultado.” – Márcia Martins Barra, professora do 5º ano do ensino fundamental.
“Os professores de turmas de mau desempenho falam de desinteresse, de baixa auto-estima, de indisciplina. O docente acaba gastando muito tempo tentando manter a ordem. Isso gera outro problema: só 33,1% acreditam que vão conseguir concluir 80% do conteúdo previsto até o fim do ano letivo”, analisa Leite.

Para a professora Márcia, os dados são preocupantes porque o 5º ano é a conclusão da etapa mais importante para a fundamentação escolar da criança. “Até essa etapa, somos a base. É como a construção de uma casa: se o alicerce não estiver bem feito, a estrutura não fica boa. É fundamental que o professor acredite em seu trabalho e não desista do aluno com dificuldades. Só assim é possível colher frutos da aprendizagem”, avisa a professora. (G1)

 

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